Sabe aquela dor muscular aguda dias após a prática de exercícios que estão fora da sua rotina de treinos? Durante muito tempo, esse quadro foi interpretado de forma inadequada. Como é de conhecimento de todos, a atividade física mais intensa causa acúmulo de ácido láctico nos músculos e este provoca a dor. Este fato passou a ser interpretado como a causa da dor e do desconforto muscular que aparecem como uma manifestação tardia dos efeitos do exercício.

A verdade é que o ácido láctico acumulado nos músculos é logo removido, sendo metabolizado em poucas horas após o término da atividade. Portanto, o que provoca a dor do dia seguinte?

Quando uma atividade mais intensa é realizada, seja esportiva, recreacional ou mesmo laboral, os músculos sofrem o que chamamos de micro-traumas, que são lesões muito pequenas da estrutura muscular. Os sintomas são: musculatura inchada, dura, enrijecida, sensível ao ser tocada, dolorida a cada tentativa de movimentar e incapazes de grandes esforços.

A resposta dos músculos é reparar o dano sofrido, sendo este inclusive o princípio do mecanismo de adaptação ao estímulo do exercício. Em outras palavras os músculos sofrem um dano para depois se tornarem mais fortes. Trata-se, portanto, de um processo fisiológico que podemos considerar natural.

O que ocorre é que esta reparação do dano desencadeia um processo inflamatório cuja magnitude depende da intensidade do exercício realizado. O processo inflamatório tem uma evolução gradual, atingindo seu ápice entre 24 e 48 horas após o início.

Em um corredor de 400 metros, por exemplo, em seus treinamentos diários (dentro do seu limite) ocorre o acúmulo Lactato e não apresenta dores musculares pós treinamento. Esta é uma intensidade considerada fraca para um atleta altamente treinado, onde o aumento significativo de Lactato na musculatura não ocorre, pois na mesma velocidade que o Lactato é produzido, ele é removido da musculatura (isto se chama equilíbrio entre produção e remoção de lactato). Após o treinamento, este atleta apresentou fortíssimas dores musculares, em média 2 dias.

Enquanto que o mesmo atleta, em uma outra sessão de treinamento, realizou uma corrida em um plano reto (sem inclinação), a uma intensidade de 80% da absorção máxima de O2, esta é uma intensidade onde a produção de Lactato é maior que o processo de remoção do Lactato, ou seja, a concentração de Lactato nesta intensidade é maior (em outras palavras, ocorre o início do desequilíbrio entre produção e remoção do Lactato). E após o treinamento, o atleta não apresentou nenhum sintoma de dor muscular tardia.

O que fica de conclusão desse exemplo é que que quando as fibras musculares sofrem uma exigência mecânica acima do seu limite (corrida em um plano inclinado), elas ficam mais expostas a dor. Em outros casos o mecanismo de formação da dor muscular tardia, surge também quando se aplica uma carga que não se está acostumada, por exemplo, um atleta de culturismo realizando treinamento de escalada.

Pode se dizer então que quando uma atividade muito intensa é realizada, a dor do dia seguinte é praticamente inevitável, na medida em que ela caracteriza o processo de adaptação dos músculos. O que certamente se pode ou deve fazer é adequar a intensidade do exercício para evitar um dano de maior magnitude. A aplicação de gelo imediatamente após é também recomendada, evitando a formação de um edema mais intenso.

No dia seguinte, não devemos pensar em “remover ácido láctico” para atenuar a dor. Não existe ácido lático para ser removido; e sim procurar melhores formas de tratar/reparar os micro-traumas das fibras musculares, como citado anteriormente

Solaine Rios

Fisioterapeuta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *