Todo mundo já recebeu a indicação de “praticar pelo menos meia hora de exercício físico diariamente”, não é mesmo? Assim que o indivíduo começa a praticar um exercício físico, o sistema nervoso central libera serotonina na corrente sanguínea substâncias que ajudam a acabar com o mau humor.
A certa altura, essa produção atinge um determinado patamar, que torna a sensação de relaxamento e bem-estar perceptível. O melhor de tudo é que essa sensação prazerosa tende a permanecer mesmo depois de terminado o exercício. A falta desse neurotransmissor é uma das principais causas da depressão.
Então podemos afirmar que atletas não possuem depressão? Eles são vistos pela sociedade como a representação da saúde e bem-estar. Mas a doença pode ser ainda mais perigosa para os esportistas de alto nível.
A depressão é uma das doenças mentais mais comuns a nível mundial. A OMS estima que 322 milhões de pessoas tenham sofrido desta perturbação em 2015, correspondendo a um aumento de 18,4% durante a última década.
A Organização considera em depressão uma pessoa que apresente alguns dos seguintes sintomas por mais de 14 dias seguidos: perda de energia, mudança de apetite, ganho ou perda de sono, diminuição da concentração, indecisão, inquietude, sentimentos de inutilidade, culpa ou desesperança e pensamento de automutilação ou suicídio. Ainda de acordo com a instituição, a doença afeta 11,5 milhões de brasileiros, e no caso do esporte pode estar diretamente ligada ao desempenho do atleta.
A demanda pelo esforço físico e de desempenho são altos e sob muita pressão e expectativas diárias. Se o indivíduo não está preparado para lidar com o ambiente, a depressão se torna uma realidade. Um verdadeiro desafio para a sua auto estima.
Precisa ter uma ideia clara de que depressão é uma doença crônica e recorrente, se você não cuidar, não fizer o tratamento direito, haverá uma recaída. Um episódio de depressão pode durar até um ano e meio, dois anos. Se for crônico, pode durar a vida inteira. Por isso é tão importante o acompanhamento médico.
Os primeiros efeitos da medicação começarem a aparecer depois de 10 a 15 dias e isso se torna um tempo muito extenso para os atletas. Isso e a vergonha (pela falta de informação) fazem com que eles prefiram não lidar com a doença e seguir com seus treinos de forma infeliz e insuficiente.
Educar treinadores, atletas e todo o staff sobre a depressão e suas consequências pode ser um desafio, mas não é impossível. Esse é o ponto essencial para identificar atletas que estejam com sintomas depressivos ainda no início.
Além disso, é importante que possamos olhar os atletas como pessoa, antes de tudo. Eles podem ficar com a prática esportiva, mas a alta performance em encorajamento e o apoio pode vir de todos nós.
Juliana Lobato Salustiano – Médica (CRM-MT 6918), Escritora, Palestrante e Coach.